domingo, 25 de outubro de 2009

APOCALIPSE


Temporais turvos... Tempestades tenebrosas...
Necrosa o céu a destruição hórrida e funérea,
Hediondos ciclones... Atras noites umbrosas...
...¡Sarcófago abiótico da ultima matéria!...

Forças subterrâneas... O afã das nebulosas...
Trazem o arcano crepuscular da miséria.
...Os espasmos etéreos das feras saniosas...
Num aborto apostemado: Do astro à bactéria!

Monstruosidade oblonga do disforme Eclipse!
...Fantasmas energúmenos do Apocalipse...
Supurando ao negrume de insondáveis portas!...

É o fim intérmino das inóspitas eras...
—Cemitério cosmopolita das quimeras—
(Deus morto no inventário das células mortas!!).


James Wilker. Escrito em meados de 2006. Soneto inspirado na poética determinista e cosmológica de Augusto dos Anjos e na transgressiva simbologia dos versos de Cruz e Souza.

DESCALABRO POLÍTICO



Esta política brasileira me aborrece. Não suporto mais o noticiário de tantas falcatruas e escândalos intermináveis. O político brasileiro virou sinônimo de roubalheira, de corrupção, de atos criminosos. A classe política, tão importante para a democracia enquanto instituição administrativa do poder social, está cada vez mais desacreditada pelo cidadão comum. Ninguém acredita mais nos discursos enganadores. E não importa o nível de escolaridade e classe social, desde os iletrados e miseráveis aos doutores e milionários, o desalento é geral.

Isso acaba introduzindo o voto de interesse pessoal: “Já que os políticos vão sempre roubar dos cofres públicos, votarei em um que pelo menos consiga uma bonificação para mim”, diz o eleitor descrente. Por isso temos essa divisão político-partidária, entre esquerda e direita, ou melhor, entre oposição e situação. Cada um defende seus próprios interesses em detrimento ao da sociedade e querem a todo custo tomar de assalto o poder. E nessa briga pelo poder, a ingovernabilidade avança, trazendo atrás de si os “mensalões”, os “sanguessugas” do erário, a impunidade parlamentar e corporativista, os “aloprados” quadrilheiros de organizações criminosas, a violência desenfreada, a defasagem na saúde publica, na educação, na infra-estrutura que é via de acesso ao crescimento econômico, e, por conseguinte, a injustiça e ao genocídio de milhões de pessoas que morrem por descaso das autoridades.

Somos uma nação de deserdados! O nosso país emperra o crescimento sócio-político-econômico-cultural com os esconsos e abissais caminhos da “burrocracia”: que atrela a si, toda boa vontade política, todo desejo de sanidade social, toda luta por justiça, por um país melhor, menos desigual e inseguro, com progressiva eliminação das mazelas de plantão, da ignorância coletiva, do estado de torpor moral, da ineficiência educativa e da estultice e falácia oportunista da mídia em geral. Parece, a observar o momento político, que não somos o país do futuro, nem tampouco do passado...


James Wilker. Escrito em 2006/2007.

ILUSÃO TREDA


Hoje o céu vestiu-se de luto e de tristeza
E o mar resplandeceu o fúnebre mistério
Da fúlgida escuridão do atro cemitério!
- Clausurado de alienação e incerteza.

Tu deixaste este mundo de cruel dureza.
Onde estás agora? No espaço etéreo
Ou na poeira orgânica de um solo funéreo?...
Oh! Dor profunda! Oh! Misteriosa natureza!

Porque arrancastes de mim o anelo supremo...
A mísera alegria... O devaneio... O extremo...
A única ilusão de uma vida angustiada?

Oh! Vida, como tu és uma ilusão treda!
Uma boca linda... Mas uma boca azeda:
Fria languidez de uma beldade amortalhada!



James Wilker. Escrito em meados de 2005/2006.

O ESCAFRANDO E A BORBOLETA


Uma crônica poética sobre um filme que é poesia


Um filme soberbo.
Emocionante, mas não apelativo sentimental:
Apesar de sofrido, triste, não deixa de ser alegre.
O diretor soube utilizar o contraste desses sentimentos
Para nos reelaborar uma lição de vida...
Uma lição de superação, de força de vontade,
De compreensão e aceitação das condições que nos são impostas!

O Escafrando e a Borboleta é um filme pra gravar
Nos arquivos da memória: "Um quadro pregado na parede".
Aquela fotografia que não cansamos de rever...
Um filme lindo que mostra a beleza da vida como ela é:
Que modifica nossas acepções de valores e de anseios.
Que nos faz pensar nas coisas simples, que acabamos não valorizando.
Que nos instiga a acreditar mais em nossas capacidades,
Nos liberta dessa paralisia, dessa falta de ação.
Nos condiciona a lutar por grandes feitos, através de pequenos gestos...
Um simples piscar de olhos pode realizar nossos maiores sonhos!

James Wilker. Escrito em 25 de outubro de 2009.



sábado, 24 de outubro de 2009

ESPIRAL DE SENTIMENTOS


Continuo metamorfoseando meus ideais
Continuo nessa transformação perene,
Nessa volubilidade sempiterna – imarcescível!
Continuo insatisfeito com o meu ser,
Com o que tenho conquistado,
Com o que circunscreve ao meu redor.
Nada me satisfaz completamente:
É sempre esse querer impossível
- Essa ansiedade pelo mais...
Esse desespero pelo perfeccionismo,
Pela eternidade intangível:
Por uma felicidade imanente e inexorável!

Continuo devaneando em nebulosas,
Em etéreas poeiras de quimeras...
Continuo pairando sobre sombras
Misteriosas do ceticismo agnóstico:
- onde a incerteza se faz por certo!
Onde “não há certeza nem da própria dúvida”.*
Onde tudo é instável e possível...
Continuo sem rota, sem rumo
Sem bússola e astrolábio que me guie,
Divagando sem objetividade norteada!
Numa espiral de sentimentos indefinidos...
De anseios mórbidos e imperscrutáveis!


James Wilker. Escrito em 05 de abril de 2008
*Mario Quintana. In: Ainda Bem: Poesia Completa, p. 835.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

EMBATE LITERÁRIO


O Poeta, munido de seu arsenal bélico – a palavra escrita!
Empunha ferozmente a pena afiada e esfaceladora,
Ergue o gládio da linguagem e brande a hasta literária,
Para escrever, em letras garrafais e sanguinolentas,
No coração desarmado do leitor incauto e desprevenido,
O poema devastador e cataclísmico da verdade elegíaca:

Tecendo golpes profundos de metafóricas Ambigüidades
De metonímicas Aliterações, de eufemísticas Catacreses
De anafóricas Hipérboles, e de irônicas e paradoxais Onomatopéias,
Vai perfurando as vísceras, dilacerando a epiderme,
Atravessando o encéfalo, quebrando as articulações emocionais
Da, então, combalida alma leitora – que desfalece literalmente!

É um combate injusto – tamanha beligerante superioridade.
Mas o Poeta – conhecedor empírico da gramática lingüística,
Sapiente das técnicas poéticas e da parafernália textual –
Sentindo a necessidade intrínseca de manter o leitor vivo,
Apenas hipnotiza-o com suas voluptuosas e efusivas palavras,
Tornando-o escravo de seus jogos e figuras de linguagens sedutoras...

James Wilker
. Escrito em 05 de outubro de 2009

*Esse poema foi escrito logo após um debate sobre o leitor e escritor. E com a contribuição hipnotica do conto Terceira Margem do Rio de Guimarães Rosa, onde o autor brinca com nossa imaginação, com nossas interpretações...

COISAMENTE!


A coisa tem forma disforme:
É esfericamente quadrilátera,
Tridimensional, liquefeita e elíptica.
Em cada um dos seus lados oblíquos
Percebe-se, diagonalmente, a polidez versátil de suas entranhas...
Nebulosa, traz em seu centro as adjacências perpendiculares
De suas extremidades concêntricas.
Não se vai além de suas curvilíneas abstrações...
Mas, atentando-se para os pontos reticulados e sinuosos
De suas excrescências, pode-se, claramente,
Verificar a transparência difusa de suas partes desfragmentadas.
É uma desfiguração continua, desmembrando-se...
O obscuro objeto indeterminado, oculto:
Contraindo-se, dispersando-se, fundindo-se, sublimando-se,
Avolumando-se, flexibilizando-se, desconstruindo-se...

É concreta, petrificada, porém incomensurável.
Contornável, epidérmica, mas incognoscível.
Sua volubilidade é constituída de insondáveis Arcanos...
Seu corpo imaterial tem estruturas moleculares diáfanas
Que interceptam o rompimento do vazio.
Sua totalidade cósmica e etérea se esvai
Ante a compactação de suas partículas atômicas...

Mas, num desprocesso inconcebível,
Toda sua complexidade indevassável...
Se coisifica na simplicidade de um objeto qualquer!


James Wilker. Escrito em 18 de maio de 2009)

* Esse poema foi criado com a intenção de desbanalizar a palavra coisa, e também, para representar a curiosidade que temos (além da incrível imaginação) quando alguém diz que vai nos contar alguma coisa num outro dia, e aí, depois de dias imagninando e formulando o que seria a "tal" coisa, ele nos surpreende com algo tão insignificante que mal podíamos pensar.

domingo, 18 de outubro de 2009

A BELEZA DOS CONTRASTES


O Preto no Branco
Assim como o Branco no Preto
É a simbiose da perfeição visual!
Já pensou a existência
Do Branco sem o Preto?
Ou vice-versa?
Faz-se necessário ao Preto
A existência do Branco.
Branco-e-Preto são complementares,
São cúmplices, confrades... irmãos!

Qual o mais bonito? Os dois, ora!
Apesar da distinta coloração,
A percepção da beleza de um
Depende, exclusivamente, da beleza do outro.

O que seria dessas letras Pretas
Se não fosse o papel Branco?
Seriam palavras mortas – escuridão!
E o que seria desta folha em Branco
Sem esse texto tecido em tinta Preta?
Mera neve de insignificação!

Portanto, viva a diferença, o contraste,
A oposição – Pra que o preconceito?
A beleza está no Branco-Preto,
Ou melhor – na Miscigenação!...

James Wilker. Escrito em 15 de dezembro de 2008

SERENIDADE DOMINICAL


Serenamente o dia amanhece garoando...
No rosto da terra gotículas de água
Penetram suas entranhas, suavizando
A impermeabilidade do seu núcleo estéril.
Elevando o perfume aromático da união
Dos dois primordiais elementos da vida!...

Lufadas tépidas de ventos noturnos
Melancolicamente sopram sobre o dia sereno.
Não se vê o tempo, o tresloucado tempo,
Correr desesperado pelos ponteiros do relógio.
- Agora placidamente caminha silencioso...
Silêncio! Essa palavra ecoa pelos pavilhões,
Pelos terrenos baldios, pela cidade interiorana,
Pelos corações deprimentes dos ansiosos,
Pelos espíritos altruístas dos solidários,
Pela alma dos que abraçam a solidão.

A natureza mostra a sua suscetibilidade:
A sensível demonstração dos sentimentos vivos
Da confraternização do mistério da vida.
O sol, o soberano sol, esconde-se atrás das nuvens.
E o mundo – visível aos meus olhos –
Deflagra-se numa tranqüilidade indizível...
– Ininterruptamente a existência passa pelas horas!


James Wilker.
Escrito em 22 de outubro de 2006